#PrimeiroAssédio: uma breve análise sobre relatos e feminismo na rede

6 de novembro de 2015

por Luísa Perdigão


GRAFO LUISA AMEM

 

É muito doloroso falar sobre o #primeiroassedio. Ainda mais quando a mulher é silenciada por sentir culpa, medo, vergonha.

.O que houve com Valentina, uma menina de 12 anos participante da primeira edição infantil do MasterChef Brasil, vítima de comentários pedófilos e de assédio sexual nas redes sociais, motivou a criação da hashtag #primeiroassedio pela @ThinkOlga, um think tank (instituições que atuam produzindo conhecimento sobre temáticas de interesse) que discute questões femininas. Logo o movimento viralizou na rede. Milhares de mulheres compartilhando publicamente o primeiro assédio sexual que sofreram.

.Foi feita a coleta das hashtags #primeiroasssedio e #primeiroabuso no Twitter, no dia 27 de outubro, utilizando o script Ford, desenvolvido pelos programadores do laboratório. A data da coleta permite uma análise minuciosa do percurso da mobilização, desde o início da iniciativa da @ThinkOlga, com relatos de violência e divulgação da hashtag por perfis feministas ativistas, até a grande repercussão nas redes sociais e em portais de notícia. Posteriormente, faremos a coleta também no Facebook.

Na rede #primeiroassedio, foram contabilizados ao todo 88.847 tweets gerados por 35.266 usuários. No grafo, utilizamos a métrica de centralidade Weighted In-Degree para identificar perfis que foram mais retuitados e o layout de visualização, Force Atlas 2, na distribuição dos nós. Para mapear as conexões entre os perfis e identificar clusterizações, aplicamos o filtro Modularity Class em Partições. O algoritmo da modularidade nos permite analisar as perspectivas da rede, ou seja, conceitos e pensamentos comuns entre os grupos, divididos por cores. Propomos uma análise das comunidades e suas funções e, apesar de reconhecer a importância dos protagonistas na rede, evitamos centralizar o discurso para construir uma rede plural de mensagens e interações.
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A internet é um espaço onde nós, mulheres, podemos nos organizar coletivamente e dar voz às violações cotidianas que enfrentamos, como forma de empoderamento e mobilização feminina. É o lugar onde encontramos pessoas que por anos guardaram uma ferida e hoje têm coragem para compartilhar vivências semelhantes em um momento de solidariedade. E o sentimento de “você não está sozinha!” reconforta e encoraja mais mulheres a relatarem suas primeiras violências.
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No grafo, é possível identificar um núcleo denso onde se concentram vários clusteres (comunidades), como uma rede de apoio, estabelecendo uma situação de cumplicidade entre as mulheres que compartilham casos de assédio sofridos. Neste primeiro momento, optamos por não analisar as controvérsias ou perfis mais engajados. Selecionamos três grupos expressivos que fazem parte do núcleo pró-campanha e feminista (grafo 2) e que construíram o movimento no Twitter. Grupos hostilizando a campanha e tecendo comentários extremamente machistas também estiveram presentes, mas permaneceram isolados, com pouca interação com outros grupos. Deixamos o cluster reacionário e machista (o verde no topo) para uma futura análise.
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rede laranja
LARANJA
A rede laranja (grafo 3) caracteriza-se pela presença de muitos perfis feministas ativistas e formadores de opinião. Nela são compartilhadas experiências vividas estabelecendo uma relação de cumplicidade no cluster.
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rede roxa 
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Já na rede roxa (grafo 4), essa relação se torna ainda mais notável por mensagens de amparo e encorajamento. Os perfis acompanham os depoimentos e se familiarizam, além de criticar o posicionamento de homens que ridicularizam a campanha. 
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rede vermelha
VERMELHA
A rede vermelha (grafo 5) é marcada pela presença da @ThinkOlga, idealizadora da campanha, e de portais de notícia como El País, Brasil Post, Carta Capital e BBC Brasil. Nesta comunidade, os perfis retuitam posts para a divulgação e repercussão da mobilização, e perfis femininos pedem para que homens também acompanhem a tag. A @ThinkOlga divulgou o resultado da análise de 3.111 tweets sobre a idade média do primeiro assédio: 9,7 anos. Futuramente, pretendemos fazer a nuvem de palavras para tornar mais fácil identificar com exatidão as nuances de cada cluster. 
O espaço foi importante para colocar em evidência um problema que muitas mulheres enfrentam e já enfrentaram. A mobilização mostra que não é preciso ir longe para encontrar uma vítima de assédio sexual. E os que estiveram presentes em todos os clusteres acima analisados, são as semelhanças das histórias relatadas e a certeza de que o #primeiroassedio não será o último na vida da mulher.
As pesquisadoras do Labic, Bianca Bortolon e Marianne Malini,  realizaram estudos sobre a temática de gênero nas redes, com a análise da campanha #NãoMereçoSerEstuprada no Facebook. Clique aqui.



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