Pode ser, mas não é: há relação entre PT, PSDB, Anonymous e Passe Livre no Facebook?


Interações interna e externa das páginas do PSDB, PT, Passe Livre SP e Anonymous no Facebook.

Interações internas e externas das páginas do PSDB, PT, Passe Livre SP e Anonymous no Facebook.

 

Há uma certa desconfiança quanto ao trabalho do AnonymousBR, a página do Facebook de megasucesso durante o #protestoBR, em função do vídeo que elenca cinco causas políticas para o país. Tais agendas viraram febre nas passeatas brasileiras. A rede dilmista acusa o vídeo de provocar desinformação e apoio às causas consideradas conservadoras (como o não à PEC-37). A rede anti-Dilma diz que são causas importantes, mas que condena o anonimato. A rede, que está mais firme agora com as ruas, não está nem aí pra isso, faz até piada da situação.

E, apesar do esforço de determinadas redes, que tentam desqualificar as causas da página AnonymousBR, acusando-a de estar à serviço da Cia, tucanos, direita raivosa, etc, há algo em comum entre eles e a presidenta Dilma: ambos colocaram a pauta da criação de medidas de enfrentamento da corrupção na agenda de prioridade do país.

Diante de toda essa controvérsia, me veio uma questão básica: quem curte os posts do Anonymous Brasil?

Por curiosidade, fiz o seguinte exercício. Fiz a extração de dados:
– dos 50 últimos posts da fanpage do PSDB. E de quem curtiu esses posts.
– dos 50 últimos posts da fanpage do PT. E de quem curtiu esses posts.
– dos 10 últimos posts da fanpage do Passe Livre São Paulo. E de quem curtiu esses posts.
– dos 10 últimos posts da fanpage do AnonymousBR. E de quem curtiu esses posts.

Peguei quatro redes distintas, do ponto de vista político. Em seguida, coloquei todas essas fanpages no mesmo lugar. Assim eu poderia ver:

– quais fãs (nós, os pontinhos) do PSDB curtiram algum post do PT, PAsse Livre SP e Anonymous.
– quais fãs (nós, os pontinhos) do PT curtiram algum post do PSDB, PAsse Livre SP e Anonymous.

Eis a reflexão.

A auto-suficiência partidária: elemento comum entre PT e PSDB

No grafo, o PT é representado pela cor vermelha. E o PSDB, azul. Em ambos os casos, há forte homogeneidade da rede. A maior partes desses fãs curte somente os posts de suas respectivas páginas. E não está muito preocupada com os do Passe Livre e do Anonymous. Preocupam-se em defender os pontos de vista dos partidos.

A página do PT, por exemplo, conta com 33 mil fãs, que se dedicam a repercutir positivamente a fala da presidenta Dilma,  a afirmar que apoiam muitas das causas das manifestações de rua e a convocar os fãs-militantes para atuarem mais na rede. O problema:  a homogeneidade demais na internet produz endogenia, quer dizer: as mesmas pessoas curtem todos os posts (por isso fãs, rs). E assim tudo se passa dentro de um grupinho. Fala-se somente para si e de si. E assim  não há – quando colocadas em contato com outras redes – muito interesse em curtirem outras perspectivas que não sejam aquelas do partido. É por isso que mais de 90% dos fãs ficam num bololô, ensimesmados e tingidos pela mesma cor, quando o filtro de modularidade (que busca identificar comunidades em um grafo) do programa Gephi é ativado.

O efeito é idêntico na fanpage do PSDB (esse rede azul à esquerda) , que está mais agitada, afinal, há um país em rota de crítica ao governo Dilma. E os psdbistas estão aproveitando o calor do momento para dar visibilidade aos seus princípios oposicionistas (principalmente a pauta da PEC37). A fanpage do PSDB agita a rede tucana publicando posts como o artigo de Aécio Neves que afirma que a velha política acabou, ou as imagens virais tendo a Dilma como principal objeto de crítica, a convocação para acompanhar os pronunciamentos de Geraldo Alckmin (afinal este é alvo em SP de muitos movimentos) e mostrando realizações tucanas durante anos do governo FHC.

As duas fanpages são o reflexo do próprio cansaço político. Ao serem inseridas num mesmo plot (espaço) onde há a presença da rede de fãs das páginas do Anonymous (quase 1 milhão de seguidores) e do Passe Livre SP (com 280 mil), percebemos que os “fãs-partidarizados” evitam o contágio com o contraditório, com outras perspectivas, criando um processo de auto-suficiência típica da representação política atual. E, analisando a proporção da rede desses dois partidoss, são os fãs petistas que mais curtem o conteúdo do Anonymous, o que, curiosamente, já poderia dar elementos para pôr fim a qualquer teoria da conspiração.

A rede AnonymousBR e a forte cultura do compartilhamento

A rede AnonymousBR, na figura, é a que está acima e no centro. Percebemos que há três comunidades dentro de seus últimos posts: os amarelos, os verdes e o laranja. Os três grupos curtem conteúdos sarcásticos, em geral, são imagens de cartazes com os dizeres “Conseguimos os centavos, agora faltam os bilhões”. A estratégia adotada pelo AnonymousBR é sempre convidar o usuário-fã a curtir alguma “frase revolucionária”. É uma espécie de conteúdo cujo a pergunta subliminar é: Você concorda com isso? É importante notar que, entre os amarelos, há aqueles que curtem posts associados à luta pela transparência da informação, como foi o caso do post que informava que Snowden, o norte-americano que vazou informações sobre a vigilância de dados privados na internet pelo governo dos EUA, estava à caminho de Moscou. Longe de ser uma grande ameaça à democracia, a página Anonymous segue um padrão de relação trazida, pelos adolescentes, desde o Orkut, com os jogos “pego ou não pego”, “comento ou não comento”.  A seção “Curta frases revolucionárias” é uma sacada fantástica da fanpage para gerar burburinho e motivar as pessoas a curtirem, comentarem e compartilharem conteúdos. Essa estratégia é feita porque o Anonymous espalha conteúdos de outras páginas no Facebook, principalmente os advindos do “Brasil sem Corrupção” e  “Frases Revolucionárias“.  E tudo isso vem de uma cultura juvenil forte, afastada das fanpages muito “racionalizadas” da população adulta do Face. A força do remix é o elemento mais forte do AnonymousBR.

Já a página do Passe Livre SP é de uma mutiplicidade impactante. Só nos últimos 10 posts foram gerados seis grupos diferentes de curtidores. Isso mostra a diversidade de grupos e expectativas dentro da página. Há aqueles mais atentos às convocatórias (cor preta), outros aos conteúdos de conquistas alcançadas pela mobilização (verde claro), muitos a fim de curtir a galeria de fotos da população na rua (marrom), de critica a taxa de lucratividade obtida pelos empresários de transporte (verde escuro) e aqueles em busca de informação sobre como ocorre o aumento da tarifa de transporte coletivo (rosa).

Nessa movimentação toda na rede, a única coisa que dá para perceber é o seguinte: O Passe Livre voltou forte (junto com movimentos sociais distintos na rua). Os partidos continuam alimentando ambientes online cujo principal objetivo é afirma o marketing pessoal de seus políticos E o Anonymous possui forte conteúdo recombinante, crítico e adolescente (o que não é ruim em si).

 

 

 

 

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